Apresentação
Arquivo Afro-religioso é resultado de ações de pesquisa e extensão que se constituíram com as
comunidades de terreiro e que ao longo de alguns anos articulam saberes, reflexões, ancestralidades,
gestando processos horizontais de conhecimento que ganham forma em trabalhos de conclusão de curso,
seminários, mapeamento dos terreiros de Natal, a produção audiovisual em imagens fotográficas, CD e
documentários, entre outros.
Ao longo desses anos de relações constituídas, documentos diversos foram se desvelando em existência
nos diferentes espaços guardados dos terreiros, composto por cadernos escritos, anotações diversas
em papéis avulsos, documentos, fichas, diplomas, fotografias, demonstrando vida e revelando
histórias vividas. A esses objetos que se mostravam de forma fragmentada, um outro, ao contrário,
formado por um conjunto documental, datado dos anos de 1960/80, a representar a própria vida do
Babalorixá Tenente Barroso, responsável pelo acervo, nos foi apresentado por sua filha, mãe Maria
Nilza Barroso dos Santos. Ao conhecer o rico e denso material, compartilhamos com a responsável a
importância dele ser conhecido sobretudo pela comunidade religiosa.
Iniciava-se o processo que daria forma ao presente projeto do Arquivo Afro-religioso. Memória e
patrimônio das comunidades de terreiro – RN.
Nesse contexto, um evento, em especial, se faz necessário destacar. Trata-se do “Seminário
Internacional Patrimônio e Religiões Afro-Brasileiras” (Projeto de Extensão, UFRN, 2018), que reuniu
representantes das comunidades de terreiro da cidade do Natal e região metropolitana para pensar
sobre sua memória e o patrimônio cultural documental.
No referido seminário, duas mesas foram significativas: a primeira, coordenada pela filha do Babalorixá Tenente Barroso, mãe Nilza, apresentou o legado religioso e documental deixado pelo pai e as questões enfrentadas para a sua preservação. Uma segunda mesa, reuniu lideranças das demais casas de terreiro, abertas na primeira metade da década de 1960, ainda em atividade na cidade, conforme listamos a seguir:
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Centro Espírita Caboclo Aracati (Fundadores: Pai Geraldo Guedes/Mãe Josefa Guedes - Pai Cleone Guedes)
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Pai Dedé Macambira (Pai Leandro de Oxóssi)
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Centro Umbandista Pai Joaquim de Angola (Fundador: Pai José Clementino)
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Tenda Espírita Iemanjá Ogunté (Fundadora: Mãe Lúcia Flor - Mãe Cremilda)
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Terreiro de Oxum (Fundador: Babá Karol – Mãe Juliane)
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Pai Nino (Mãe Viviane Araújo França)
Assim, o Arquivo Afro-religioso, projeto de extensão e pesquisa do Grupo de Estudos Culturas
Populares e Religiosidades (Departamento de Antropologia/PPGAS/UFRN), Grupo de Articulação de Matriz
Africana e Ameríndia – GAMA e demais parceiros institucionais, nasce com o objetivo de promover o
registro do acervo cultural de bens documentais escritos, visuais e de artefatos do patrimônio
afro-religioso potiguar.
A proposta é iniciar com os acervos digitalizados dos babalorixás Tenente Barroso e José Clementino,
e, gradativamente, incluir os documentos das demais casas abertas no início dos anos de 1960 e
década de 1970. Espera-se que a publicação deste arquivo website estimule a participação das
comunidades de terreiro na construção desse processo, ampliando e enriquecendo as informações
existentes.
Ao proceder o inventário e registro documental das comunidades de terreiro mais antigos da cidade e,
inclusive aqueles que não mais existem fisicamente, mas é muito provável que parte dos seus acervos
encontrem-se espalhados, porém guardados, pretende-se, com a criação deste arquivo virtual,
valorizar a memória na construção dos processos de pertencimento e identidade, um encontro coletivo
das comunidades de terreiro do Rio Grande do Norte com a sua história e, igualmente, combater o
racismo e todas as formas de preconceito e discriminação.